
Pois bem, e que boa forma de ganhar inspiração não será uma ida à praia, hem?
Ora, a modos que lá peguei nas trouxas e bora lá...
Ora, a modos que lá peguei nas trouxas e bora lá...
Uma ida à praia é sempre carregada de emoção e espectativa e normalmente, no meu caso, é sempre a melhor altura para apanhar palermices.
Para além de reparar (apenas para fins meramente de estudo) nas gajas que passeiam pelo areal em trajes menores (ma que bela!), gosto de tar ali feito sardinha a virar umas 20 vezes até ficar tostado, tentando sempre reparar nas calinadas e nas figurinhas que por lá estão. Mas curiosamente a minha atenção vai sempre para as famelgas numerosas.
Este tipo de famelgas vem, normalmente, daquelas cidades do interior esquecido e pouco lembrado e que, normalmente, a única praia que vê é o rio que passa lá na aldeia.
Constituída por elementos de peso, o chefe de família é, sem dúvida alguma, o verdadeiro Zé Portuga! (esta conclusão pode ser facilmente comprovada no caso do indivíduo trazer um garrafão de vinho)
A chegada destes indivíduos à praia é sempre mais ou menos pacífica, havendo sempre algum puto mais choné a chorar desalmadamente por querer um gelado.
A sua estadia... um autêntico massacre para o bem estar fisico e emocional de qualquer um. Normalmente não se prolonga mais do que 4 horas, mas ainda assim podemos ver de tudo e mais alguma coisa.
Repare-se que esta espécie de indivíduos da classe dos HomoSapiensSapiensZéPortucalis é dotada de certos e determinados comportamentos, únicos no mundo. Ora vejamos:
- Os elementos do sexo masculino chegam à praia de meia branca, chinelinho no pé (com a meia branca por baixo), calça vincada e, para completar o quadro, camisola interior cabeada com a barriga mais ou menos a caber dentro;
- Estes indivíduos são capazes de transformar uma praia pacífica e normal, numa praia com catraios sem cuecas de tringalhos ao penduro a correr desalmadamente pela praia. Uma verdadeira obra de arte;
- Quando não estão a correr, divertem-se a atirar com a bola pra quem está descançado e a tentar ter uns momentinhos de reflexão;
- Ficam alojados na barraquinha. Um espaço de cerca de 1 metro quadrado mas onde não falta espaço;
- Enquanto os homens dormem, as mulheres dedicam-se ao croche e ao ponto de cruz. Diga-se que os homens ressonam e que o seu grunhido é audível a 250 metros;
- Esta espécie, vem abastecida para 1 ano, trazendo sempre o seu farnel, onde não falta o chouriço, o presunto, o queijo da serra amanteigado, o iogurtinho Danone (pró trânsito intestinal) e o bolo da avó;
- Ao contrário dos macacos que catam piolhos no pelo uns dos outros, estes limitam-se a apertar borbulhas;
- O chefe de família apresenta um farto bigode;
- A linguagem é muito limitada... «foda-se», «caralho», «puta que pariu»... às vezes ouvem-se os três ao mesmo tempo;
- As conversas giram sempre à volta da vida social e cultural lá da terrinha. «A Ti Jervásia tá tão mal!», ou mesmo «A vaca da Maria é uma badalhoca do caralho! Anda a encornar o marido com o padeiro! Vaca!»;
- Entre o barulho do mar a enrolar na areia, lá se ouve um grunhido ou mesmo, mesmo (em dia de sorte) um peido daqueles puxados às tripas! A desculpa é sempre caricata: «É o beinto a cortar na barraca!»;
- Sempre que passam por alguém, deixam um rasto de destruição. Areia e mais areia!
Meus caros, como puderam ver, esta espécie é de todo fascinante, quer pelos seus modos, quer pela sua maneira de estar. Contudo, têm passado por sérias dificuldades e encontra-se em vias de extinção.
A falta de praias com espaço livre para albergar uma barraca e uma famelga com 20 pessoas, bem como a existência de cuecas de criança à venda nos hipermercados tem afastado esta espécie das praias.
Por isso, temos de lutar pela preservação desta espécie que torna as nossas idas à praia mais deprimentes!
Poeta Acácio (Poeta do Desassossego Desassossegado)
TENHO DITO