Pois bem, eis que, depois do magnífico post-it (bom... só um bocadinho magnífico) escrevinhado neste estaminé em que o poeta puxou cá para fora toda a sua veia cinematográfica, me encontro numa de comentador desportivo e, deixem que vos diga, o totó do Rui Santos que se cuide!
Ora mas perguntam vocês, catraios mai lindos, como é que eu, que não percebo um caralh* de futebol, vou comentar a desgraça de ontem?!
Lá está... o Rui Santos também não percebe nada de futebol e toda a gente lhe chama 'comentador desportivo'. Convenhamos que também não tem nada que saber... basta aprender uma série de palavreado técnico-táctico e voilá, temos um comentador desportivo.
Bom... vamos ao que interessa.
Tal como muitos de vocês, também eu vi a desgraça de ontem e, também eu fui invadido por um violento instinto de amandar com toda uma moca de Rio Maior na TV, ou simplesmente, de insultar o idiota que disse que "os golos são como o ketchup" e que ia "explodir no mundial"!!
- O Ronaldo continuou a fazer aquelas fintinhas e reviengas do costume e a perder bolas (também como de costume);
- Continuamos a errar passes (como de costume);
- Continuamos a achar que o Carlinhos Queirós é treinador quando mais parece um professor de educação física;
- Trouxemos um autocarro para a defesa, ao invés de amandar com um TGV de contra-ataques e transições;
- Ahhhhhh... e pensamos que, depois das 7 cavaquitas que oferecemos aos norte-coreanos e de uma passagem aos oitavos "rés vés", o jogo com a Espanha era uma coisa que se aviava a brincar numa bela tarde de Terça.
Não poderíamos estar mais equivocados!!!! Fomos aviados com uma modesta e seca cavaca que nos deixou afundados na tristeza do costume.
Puxando da minha veia palerma e misturando-a com o paleio futebolístico que aprendi por correspondência, eis que vos apresento as razões para o desaire (sim... também é um termo técnico futebolístico!) de ontem:
Primeira razão: Portugal sempre foi o país da tragédia e da tristeza. Já estamos habituados a uma crise ao pequeno almoço, um despedimento ao almoço, um assalto ao lanche, uma medida de austeridade ao jantar e, para terminar o dia em beleza, um carjaquim à ceia! País trágico portanto!!! Agora, para aumentar a tragédia lusitana, também ilustrada pelo poeta Zarolho num dos seus calhamaços, enfiam-nos um desaire futebolístico na pausa do chá! Oh mundo cruel!!
Segunda razão: Os espanhóis não gostaram que um qualquer Primeiro Ministro fosse ao estaminé deles e usasse o Purtinhól como dialecto!
A sério, se um gajo quando ouve outro dizer num Português-das-grutas que gosta muito de «mursse» de «chacolate» ou «as mulheres agora põem ciclone nas tetas», é invadido por todo um sentimento de agredir selvaticamente à base de marretada o dito estarolas, imaginem agora o que terão sentido os Espanholes quando ouvem um indivíduo agredir o idioma dizendo: «Sión precisiós diós piara dianciar el tiango!!!».
Convenhamos que a carga emocional negativa transmitida por esta frase é, deveras, razão suficiente para os Espanhóis se terem chateado e nos terem aviado com uma cavaca à la base de banho de bola.
Terceira razão: Eles nunca digeriram aquela cena de sermos os pioneiros dos descobrimentos lá muito bem. Aliás, já não é a primeira vez que eles tentam roubar-nos esse título. Recorde-se o glorioso ano de mil cinco e dezanove em que os Nuestros Hermanos da Trieta vieram contratar por 3 épocas o Magalhães (não o computador, o Fernão!) para dar uma voltinha ao globo. Rescinde o contrato em 1521 tendo depois assinado um contrato vitalício pelo Cova Repouso Eterno F.C. entregando a pasta de acabar a viagem a um espanhol qualquer.
Mesmo assim o título continuou e continua a ser nosso.
Quarta razão: A história de Portugal é bem clara quando diz que quem aviou sete espanhóis de uma assentada. Não o Ronaldo (esse só avia espanholas), não o Sócrates... mas uma padeira de Aljubarrota que decidiu aviar à base de marretada de pá os malandros dos espanhóis que se tinham entrincheirado dentro do forno. É certo que deviam ser estúpidos que nem portas para se enfiarem num forno, mas uma coisa destas é, certamente, coisa difícil de engolir.
Vemos então, que houveram razões para a derrota de ontem. Umas mais parvas do que outras é certo, mas pode dizer-se que podia ser pior.
Poeta Acácio (Poeta do Desassossego Desassossegado)
TENHO DITO